Um simples operador? Criador de conteúdo?
Postado por
ATV
às
16:17
Despertar ao som de um relógio digital, escovar os dentes com seu chuveiro elétrico, chamar um táxi através de um aplicativo no seu telefone, comprar o almoço com o cartão de crédito e pegar um avião com uma passagem online comprada através de um site de compras, um exemplo banal de parte de um dia de uma pessoa qualquer no mundo contemporâneo, mas um exemplo que ilustra bem a nossa dependência tecnológica e o regime de escravidão que o mundo digital impôs sobre nós. Apesar desse tema parecer atual a discussão data do início do século XX e já foi tema pra diversas obras, principalmente no campo da ficção científica em livros como Admirável mundo novo, Eu, robô e filmes como Minority Report, Metropolis e Exterminador do Futuro, apenas para citar alguns.
Essas obras utilizam da alegoria de futuros utópicos ou distópicos, até mesmo apocalíticos em alguns casos, para refletir acerca da sociedade no tempo em que foram escritos, e mesmo sendo obras clássicas
( algumas datando mais de meio século) seus discursos continuam contemporâneos e são discutidos ainda hoje. A figura do adorável vagabundo de Charles Chaplin no filme Tempos Modernos serve como uma boa ilustração para a discussão (quem sabe até mesmo um clichê) que virá a seguir.
( algumas datando mais de meio século) seus discursos continuam contemporâneos e são discutidos ainda hoje. A figura do adorável vagabundo de Charles Chaplin no filme Tempos Modernos serve como uma boa ilustração para a discussão (quem sabe até mesmo um clichê) que virá a seguir.
Em seu texto Urgência de uma filosofia da fotografia, Villém Flusser discute, como o próprio título sugere, sobre a fotografia; mas não fala sobre técnicas ou sobre seus grandes artistas, mas sim sobre como nos tornamos meros operadores de uma "caixa preta" (ele utiliza esse termo para denominar a maquina fotográfica, nos dando a chance de comparar á caixa preta de um avião) cheia de mistérios quanto ao seu funcionamento, espectadores de um processo mágico sem nenhuma ideia de como foi feito. É ai que entra a comparação com "O Vagabundo" de Chaplin no filme Tempos Modernos e a cena icônica do clássico ator inglês como um apertador de parafusos em uma industria do século XX; no filme, o homem representado por Chaplin funciona com uma simples extensão da máquina industrial, participando de parte do processo sem fazer ideia de como funciona como um todo, sem entender o funcionamento da máquina, assim como pra Flusser o fotografo trabalha como um mero funcionário da máquina que não entende o sistema de criação de imagens da máquina, é um apertador de botão qualquer.
Para o teórico da comunicação, é impossível ser criativo na fotografia sem saber seu sistema, uma vez que sem esse conhecimento estamos limitados a um número infinito de possibilidades de imagens que poderão ser feitas, sendo nenhuma delas únicas, vide as fotos clichês em viagens á Europa, por exemplo. Mediante a esse fato torna-se necessário entender o sistema e jogar contra o mesmo para ser criativo e inovador e fugir dos padrões, é preciso jogar contra o sistema para se destacar e ser diferente, é necessário interferir no processo. No caso de Flusser o objeto de estudo foi a fotografia, mas podemos traçar um paralelo de suas ideias aos novos meios de comunicação como a TV, Cinema e até mesmo a Internet e outros meios digitais.
Para os profissionais da comunicação é necessário se antecipar e se precaver constantemente acerca das novas tecnologias que vem surgindo constantemente para não se tornar obsoleto e se perder nos novos sistemas e se tornar um espectador da caixa preta, um mero funcionário, um simples operador ou um adorável vagabundo qualquer.
Por: Ricardo Godoy
Por: Ricardo Godoy
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